A chegada de um bebê é um marco de esperança, mas quando a gestação envolve riscos, os cuidados vão muito além do parto. No Rio de Janeiro, o Núcleo de Atenção Interdisciplinar ao Recém-Nascido de Risco (NAIRR), em funcionamento no Hospital da Mulher Mariska Ribeiro (HMMR), oferece acompanhamento contínuo e especializado a crianças que nasceram em condições de maior vulnerabilidade clínica, garantindo não apenas atenção médica, mas também suporte integral às famílias.

A iniciativa atualmente pertencente à Superintendência de Hospitais e Maternidades da Subsecretaria de Atenção Hospitalar, Urgências e Emergências da SMS do Rio de Janeiro, foi criada em 1997 a partir de um esforço coletivo para melhorar os cuidados com recém-nascidos e gestantes. O NAIRR está presente em sete maternidades da cidade e, desde 2013, integra o HMMR. Ali, a equipe atua no acompanhamento de bebês nascidos em gestações de alto risco, com um olhar interdisciplinar que abrange pediatria, neonatologia, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, nutrição e serviço social, além de especialidades complementares como genética e neuropediatria.

“O desenvolvimento de uma criança é multifatorial e, quando falamos em recém-nascidos de risco, precisamos de uma equipe atenta para identificar precocemente possíveis desvios, intervir de forma adequada e orientar a família”, explica a pediatra e neonatologista Denise Guedes Moreira Iach da Mota, referência no NAIRR/HMMR.

Segundo a médica, atrasos de marcos de desenvolvimento, síndromes genéticas, distúrbios neurológicos e complicações decorrentes da prematuridade estão entre os principais fatores que justificam esse cuidado prolongado.

Como funciona o acompanhamento

Bebês que nasceram no HMMR e se enquadram nos critérios de risco, como prematuridade extrema, complicações no parto, síndromes genéticas ou infecções congênitas, são encaminhados ao NAIRR logo após a alta hospitalar. O acompanhamento começa com consulta em pediatria/neonatologia e se estende às terapias e outras especialidades.

O vínculo, no entanto, não é apenas técnico. “Nosso objetivo é acolher, fortalecer e encorajar as famílias. Os responsáveis são os protagonistas do futuro da criança, e o NAIRR existe para apoiar esse protagonismo”, destaca Denise.

Na prática, o programa acompanha as crianças até que atinjam seus marcos de desenvolvimento com segurança, geralmente por volta dos 6 anos, quando entram na fase de alfabetização. Mas cada caso é analisado individualmente, e há crianças que permanecem sob acompanhamento desde a criação do núcleo na unidade.

Impacto e resultados

Entre julho de 2023 e junho de 2025, o NAIRR do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro realizou 2.653 atendimentos, sendo 1.471 em pediatria e 1.182 em terapias especializadas. Esse acompanhamento precoce tem sido decisivo para a qualidade de vida de crianças e famílias, permitindo a detecção de condições como hidrocefalia, craniossinostose, transtorno do espectro autista (TEA) e distúrbios de linguagem ainda em fases iniciais.

A iniciativa também aposta em estratégias inovadoras de integração, como os encontros de musicalização realizados no hospital, que promovem troca de experiências entre profissionais, famílias e pacientes, reforçando o caráter humanizado do cuidado.

Desafios e futuro

Embora apresente bons índices de adesão das famílias, o NAIRR enfrenta desafios relacionados à vulnerabilidade social, que muitas vezes impacta na continuidade do acompanhamento. Ainda assim, a experiência acumulada no HMMR inspira perspectivas mais amplas.

“Esperamos que o modelo do NAIRR possa se expandir para outras maternidades do Brasil. O trabalho interdisciplinar é transformador e faz diferença não só no futuro da criança, mas também na vida de toda a família”, conclui a médica.

Fonte: Comunicação, Marketing e Relacionamento